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Homilia de Dom Paulo Francisco na Missa da Unidade

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Mais uma vez, pela nona vez, nos reunimos em torno do altar para, clero, consagrados, consagradas e fiéis leigos celebrarmos a Missa da Unidade. Realmente é o Espírito Santo o promotor da unidade entre todos os cristãos, como podemos constatar no evento de Pentecostes. É o Espírito Santo que, “caindo” sobre as oblatas – pão e vinho – transubstancia o simples pão no Corpo do Senhor, e o vinho no Sangue puríssimo de nosso Redentor, para ser nosso alimento e nossa bebida da unidade, para fazer acontecer o Corpo de Cristo. Então, o sacramento da eucaristia é sacramento de comunhão, promotora eficaz de nossa união com Deus, com toda criação e com nossos semelhantes. É sacramento da redenção, tão bem simbolizado na cruz de Cristo com suas duas hastes: a vertical que liga o céu, o Pai Celeste à terra; a horizontal, a abraçar o mundo e a humanidade como os irmãos. Por isso, celebrar a Eucaristia é celebrar o mistério de nossa redenção, é compromisso de parceria com Deus, para suscitar, cada vez mais, profunda comunhão entre os homens e mulheres de nosso tempo.

O presbítero assume de forma mais radical o serviço da unidade, por isso mesmo é quase impensável, um contrassenso semear cizânia da discórdia no seio da família presbiteral, diocesana, paroquial e comunitária. O padre é homem a se sacrificar pela unidade, à semelhança d’Aquele que “fez de todos os povos, um só povo”. Congregar na unidade profunda, os homens e mulheres.  É tarefa difícil diante de nossa fraqueza. Daí a necessidade de buscarmos, como discípulos, recostar nossa cabeça no peito do Senhor, sem esquecer, é claro, de levar Maria para nossa casa (conforme interpretação belíssima de Orígenes da cena da crucificação segundo o Evangelho de João). É recostado no peito do Senhor que nos enamoramos pelo Reino, aprendemos a amar com Ele, sonhar seu sonho, amainar nossas paixões desordenadas, sorver do coração divino o suco doce da misericórdia, para aprendermos a ser misericordiosos como o Pai.

No peito de Cristo é que bebemos a água pura da espiritualidade cristã e a do ministério presbiteral. Esta comporta diferenças, embora tenha a única fonte no Espirito de Cristo. Já São Francisco Sales afirma, na sua famosa “Filocalia”,  que é, diversa a espiritualidade de uma esposa e mãe, da de uma religiosa. É, portanto, sobre o ombro deste gigante da espiritualidade católica,  que ouso falar da espiritualidade do ministério presbiteral. Concordo com Dom Juan Maria Uriarte que o nosso problema número um é a nossa específica espiritualidade.

Mas, afinal,  de onde haurimos nossa espiritualidade? Esta tem por fonte a palavra de Deus e o Magistério da Igreja ( Jo 10,1-18; At 20, 18-35; 1 Pd 5, 1-4, por exemplo, a Encíclica Pastores Dabo Vobis, 23). No quarto Evangelho, quando Jesus se apresenta como o Bom Pastor disposto a dar a vida pelos seus, ou, quando o apóstolo Paulo, num emocionante discurso em Mileto perante os anciãos, se despede deles afirmando não ter negligenciado “nada do que podia ser-lhes útil e pregado publicamente” (At 20,20). O apóstolo dá primazia ao anúncio do Evangelho, ao “testemunho da Boa Nova da Graça de Deus”. Já o apóstolo Pedro, na Primeira Epístola, capítulo cinco, aconselha os anciãos (presbíteros) ao zeloso cuidado do rebanho de Deus que lhes foi confiado, e sendo exemplo para os que pertencem ao Senhor.

Textos como estes inspiraram o Concílio Vaticano II, afirmando que o traço central e essencial de nossa espiritualidade presbiteral é a “Caridade Pastoral” (Cf. PO, 14; Lumen Gentium 27). Vale a pena tomar as palavras mesmas da Presbyterorum Ordinis: “Desempenhando ofício de bom pastor, os presbíteros encontrarão no próprio exercício da Caridade Pastoral o vínculo de sua perfeição sacerdotal que reduz a uma unidade, sua vida e sua ação”.

A caridade pastoral flui do coração sacerdotal e misericordioso de Jesus Cristo, que nos olhou e nos convocou para o serviço da Evangelização e Santificação da humanidade. Não fosse este olhar e chamado, não nos encontraríamos aqui e agora nesta catedral. É pois, na caridade pastoral de Cristo, que se fundamenta a nossa caridade pastoral. A partir da nossa ordenação sacerdotal, o Espirito Santo nos capacitou a agir em nome de Jesus, e fazendo-Lhe as vezes. O Espirito Santo nos contaminou – no melhor dos sentidos – com o amor pastoral de Cristo, com sua sensibilidade pela multidão dos deserdados deste mundo, dos famintos de esperança e vida plena.

Resta-nos, no exercício de nosso pastoreio, cuidar da graça que nos foi confiada, abandonando planos pessoais e ou quaisquer amores e valores que desfigurem a nossa radical entrega ao Senhor e ao seu Reino.

No mundo de hoje, tal tarefa pode parecer impossível, um suplício de Tântalo, mas, quero apresentar-lhe o mais eficaz meio para alimentarmos e nutrirmos a Caridade Pastoral. Trata-se da oração, desse recostar-se ao peito do Senhor. Quero crer, que todos estamos cientes da necessidade da oração em nossa vida presbiteral no pastoreio do rebanho do Senhor, mas, qual será o estilo próprio da nossa prece, chamada a alimentar a Caridade Pastoral? Como orar segundo a Caridade Pastoral? Ou ainda, de que maneira a Caridade Pastoral, inspira a nossa oração?

É bem verdade, que no cotidiano do padre é marcante a oração litúrgica, mas não se pode, em hipótese alguma, duvidar do grande valor da oração pessoal, quando muitas vezes diante do tabernáculo, recostamos a cabeça no peito do Senhor. Nossa oração pessoal é marcada, sigilada pela Caridade Pastoral. A oração do pároco, do vigário paroquial há de ser intensa, de alta qualificação, com a maturidade de pastor responsável pelas ovelhas de Cristo. É uma “oração apostólica”, isto é ligada ao apostolado do presbítero (Lyonnet) do qual brota e se alimenta.E quais seriam as grandes características dessa oração, própria característica do pároco, do vigário paroquial?  Chamo atenção para um ou outro elemento.

É claro, evidente, que a nossa oração, por ser cristã, tem sua fonte na Sagrada Escritura e será sempre gemido e clamor do Autor Sagrado da Santas Letras: o Espírito Santo. Ela, a oração missionária, apostólica que coloca na moldura de nosso coração um mosaico de rostos das ovelhas, dos doentes de corpo e de alma, dos desempregados, dos jovens, viciados, idosos, crianças. O pastor lança um olhar sobre os tetos das casas, sobre as ruas, praças, lares, barracos de sua paróquia, põe tudo no altar de seu coração para apresentá-lo ao Pai de Jesus Cristo.

A oração apostólica é louvor e ação de graças, cheia de júbilo, pelos feitos de Deus na vida dos seus paroquianos: o doente que se recuperou, a criança batizada, o jovem que abandonou o vício, a jovem que generosamente respondeu ao chamado de se tornar religiosa, o casal que se reconciliou, o pecador que caiu em sincero pranto pelos seus pecados, o adulto que se prontificou a servir a comunidade como catequista ou MECEs, etc, etc. A alma do pároco se enche de alegria ao contemplar a ação libertadora, salvadora de Deus, o crescimento na fé, caridade e esperança dos que lhe foram confiados.

Cabe-nos agora refletir, sinceramente, sobre a nossa assiduidade e a qualidade de nossa oração, sobre o nosso compromisso de deixar,  por vezes,  nossas tarefas pastorais para buscarmos no deserto o rosto de Deus. O que temos feito de nosso Retiro Anual? Buscamos diariamente o diálogo amoroso diante de Jesus sacramentado? Tomamos a Palavra de Deus para leitura orante e assumimos compromisso de viver sob o seu impulso?

Hoje mesmo começamos o Tríduo Pascal. Podemos ousar e pedir ao Pai que nos conceda a graça de uma vida de oração mais intensa, qualificada e fervorosa. Convido a todos os presentes: clero, seminaristas, membros das pastorais, consagrados,  consagradas e  féis a não abandonar a oração pelos seus pastores, párocos e vigários.

Por, Dom Paulo Francisco Machado


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