Celebrei nesse último sábado, com toda a Igreja, a Vigília Pascal, também chamada de a “mãe de todas as Vigílias”, tamanha a sua importância e magnitude simbólicas. O rito começa do lado de fora da Igreja com a benção do fogo novo e a inserção dos cravos no Círio Pascal, símbolo do Cristo Ressuscitado. Ele é entronizado na Igreja e depois canta-se o Exulte ou proclamação da Páscoa. A Liturgia da Palavra é riquíssima. São lidos 8 textos do AT e do NT mais os salmos correspondentes que sintetizam toda a história da salvação do povo de Deus. É um verdadeiro banquete. Há ainda a benção da água, símbolo do batismo, com a qual se asperge a Assembleia, e canta-se a Ladainha de todos os santos. Segue a Liturgia Eucarística como de costume. De fato, uma das mais belas celebrações católicas, única no ano.
Durante a celebração, especialmente na Liturgia da Palavra, eu me emocionei várias vezes. No meu coração, eu me recordava dos muitos cristãos que não podiam, naquele momento, celebrar o grande mistério da fé cristã. Os cristãos coptas, perseguidos e mortos em plena Semana Santa. Os cristãos da Síria, vítimas de uma guerra insana há mais de 4 anos. Os muitos cristãos refugiados, sem pátria nem templo. Os católicos sem pastores, os de países totalitários e avessos ao cristianismo. Os muitos perseguidos pela intolerância religiosa e pela violência urbana. Por isso, reitero: a proclamação da Palavra foi um verdadeiro banquete ofertado pela excelência e compromisso dos leitores e salmistas. Não por acaso, a Liturgia da Palavra é também chamada de “o Pão da Palavra”.
Do meu lugar, no presbitério, vi católicos saírem da Igreja durante as proclamações. Talvez por acharem que a missa fosse demorar mais do que o convencional. No meu coração havia um grito abafado: por que estão indo tão cedo? O que há de mais importante para se fazer hoje do que estar aqui, nesta eucaristia tão ímpar e singular do ano litúrgico? Para onde vão? Qual o motivo da pressa? Pesaroso, eu me dava conta de que não poucas vezes os católicos se retiram da Igreja por acharem que a Missa está demorando. Não conseguem “vigiar” uma hora sequer, com o Senhor morto e ressuscitado. Falta consciência? Entendimento? Falta verdadeira conversão e adesão ao projeto do Cristo? Faltam muitas coisas, é verdade. Falta, por exemplo, silêncio reverente durante a Proclamação e a Homilia. Os jovens se dispersam com o smartphone, com o (a) namorado (a). O pássaro que voa no templo tem mais atenção do que a Palavra lida ou ruminada.
Infelizmente, nem todos os que vão às nossas Igrejas foram bem instruídos ou suficientemente evangelizados. Há muitos cristãos por conveniência, por convenção social e por status. Daí a dispersão costumeira, o enfado constante e a impaciência se a Liturgia se alonga um pouco mais. As crianças nem sempre são ajudadas nesse processo. Os pais levam-nas como levam ao shopping: compram pipocas para elas comerem durante a missa, dão bala ou não conseguem acalmá-las para que todos participem com reverência do Santo Sacrifício. No shopping, no cinema, no teatro, no show, no barzinho, na praia, no clube e em tantos outros lugares de divertimentos nós nos esbaldamos e não vemos a hora passar. Aliás, o tempo, nesses lugares, é sempre insuficiente. Já na Igreja, damos o que nos sobra; do escasso, tímido, do restolho do tempo. Comportamo-nos como se Deus necessitasse do nosso louvor e do nosso culto.
Que pena! A dor pela falta de consciência e de clareza quanto à Doutrina, à Teologia e à Liturgia Católicas nos enche de sincero pesar. Como eu gostaria de dizer a todos aqueles: fiquem; não se vão tão cedo. Acalmem-se! Celebrem com alegria e com prazer; provem o quanto Deus é bom. Sintam-no dizendo-lhes hoje, em Sua Palavra, o quanto os quer e o quanto os ama. Deixem-se alcançar por esse amor desmedido e imensurável. Não tenham tanta pressa; aquietem-se! Sintam e inspirem o dom da Eternidade. Sem paciência, sem reverência e sem amor é impossível descobrir quem é Deus e o quanto Ele nos quer bem. Como eu gostaria…
Mas o que pode um texto? Eu escrevo como se pudesse alcançar a todos; como se pudesse mudar o mundo. Ledo engano! Talvez eu escreva para isso mesmo; para mudar o meu mundo interior. E isso basta!
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Por, Pe. Claudemar Silva