Ele me ouviu falar na homilia sobre os pobres desrespeitados no Brasil, da Venezuela sob a ditadura de Maduro, dos homossexuais em campos de concentração na Chechênia e das manifestações gerais contrárias às reformas da previdência e das leis trabalhistas. Ao chegar em casa, ele perguntou a uma conhecida minha: “ele é petista?”. Ela, que é de direita, disse-lhe: “não. Ele é padre”. Ela entendeu tudo.
Antes de o partido dos trabalhadores levantar a bandeira da justiça social, há milhares de anos os profetas do Antigo Testamento já o fizeram: Moisés, Elias, Isaías, Jeremias, Habacuc, Oséias, Joel, entre outros. A Teologia do AT, inclusive, é a teologia da libertação no sentido pleno do termo: a libertação do povo judeu do Egito onde fora feito escravo pelo faraó (cf. Ex 3). Antes de haver a opção preferencial pelos pobres como ideologia, os sapienciais já exortavam:
“Assim diz o Eterno: ‘Praticai o Direito, exercei a Justiça, e livrai da mão do opressor aquele que está sendo espoliado por ele. Não façais nenhum mal, constrangimento ou qualquer outra violência contra o estrangeiro, o órfão ou a viúva; nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jeremias 22:3,4,15,16).
Antes de Lula e cia existirem, Jesus já se identificava com os desvalidos deste mundo (cf. Mt 25). Antes de Marx e Engels, os apóstolos já dividiam os seus bens e cuidavam dos pobres (cf. At 2, 45). Antes que o comunismo, o socialismo e todos os “ismos” existissem, inclusive o neoliberalismo de FHC e o capitalismo selvagem de Temer e Doria, que atende aos ricos, houve um São João Crisóstomo, o grande Francisco de Assis, a mística Teresa D’avila, São Vicente de Paulo, Pe. Pio e uma corrente caritativa ininterrupta na Igreja, desde Cristo até Madre Teresa de Calcutá, passando por Dom Hélder Câmara, Irmã Dulce e o atualíssimo papa Francisco.
Acusar um cristão de “partidarismo” quando ele ousa pregar o Cristo da cruz e dos Evangelhos sendo honesto com a Teologia da Bíblia é, no mínimo, má fé. O cristão pode ser tudo, desde que tenha um único partido: o povo de Deus, e não abra mão de estar ao lado dos mais necessitados deste mundo, especialmente os sem vez e sem voz.
A polarização acirrada em matéria de política, no Brasil e no mundo, serve à lógica do mercado e dos conglomerados comunicacionais, esse quarto poder, que deturpa a verdade e confunde as consciências menos aclaradas, sem falar daquelas outras instâncias institucionais cujos interesses visam desarticular o povo, pois, desse modo, será mais fácil ludibriá-lo.
Tempus malum!
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Por, Pe. Claudemar Silva
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