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Artigo: “Cura dos olhos”

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Jesus caminhava na humanidade pregando e anunciando o Reino de Deus. Por onde passava impressionava habitantes dos pequenos povoados, os discípulos e os mestres da lei. Os mais pobres que moravam nestes povoados ficavam encantados pelo jeito de Jesus, pois acolhia o miserável na sua pequenez; aos discípulos surpreendia a cada gesto, palavra, a maneira com que fala do Reino de Deus; aos mestres da lei, Jesus causava intriga e perturbação, pois “rompia” com as regras e leis tendo em vista o amor e a misericórdia para com o próximo.

Nenhuma ação e atitude de Jesus eram vãs ou em favor de si mesmo. Ao contrário. Jesus agia com quem tem autoridade para mostrar às pessoas que a fraternidade, a solidariedade e amor são sinais do Reino e que muitas vezes, para fazê-lo acontecer é necessário ser ousado. Ele foi de uma ousadia que ninguém sobre a terra foi capaz de imitá-lo nem será!

Jesus sendo um bom judeu, não só em palavras, mas em ações concretas, foi com os discípulos para a Festa das Tendas (Jo 7,2) e a Dedicação do Templo (Jo 10,22), na cidade santa de Jerusalém. Era costume dos judeus subir a Jerusalém por ocasião das grandes festas. Pois bem: Jesus e seus discípulos estão no Templo para este momento solene e festivo.

Enquanto Jesus circulava do lado de fora do templo, encontrou um cego de nascença que mendigava na porta do templo. Os discípulos questionavam Jesus a respeito quem pecou para que aquele homem nascesse cego (Jo 9,2). Jesus disse: “Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9,3). Após isso, Jesus cuspiu no chão, e com a saliva fez barro e colocou sobre os olhos do cego (Jo 9,6). Pediu ao cego que fosse à piscina de Siloé (que significa “Enviado”), para se lavar (Jo 9,7a). O cego, foi e fez como o Mestre mandou e voltou enxergando (Jo 97b).

Que maravilha! Enxergar novamente! Com certeza aquele pobre cego voltou irradiante de alegria em seu coração pela atitude de caridade que Jesus realizou para com ele. Antes cego, vivendo na escuridão, no medo, sem ver a luz do dia agora limpo, purificado, curado e reestabelecido para viver uma nova vida na graça de Deus. Isso mesmo. A cura que Jesus faz no cego de nascença não é a cura física e sim a cura espiritual. Jesus devolve a ele a luz dos olhos da fé.

É interessante observar que o cego de nascença após sua cura teve de enfrentar um interrogatório por parte dos seus vizinhos (Jo 9,8-12) e dos fariseus (Jo 9,13).

Os vizinhos ficaram admirados e queriam saber como que aquele que mendigava voltou a enxergar (Jo 9,10); já os fariseus diziam que Jesus não vinha de Deus, pois ele fez barro em dia de sábado o que não era permitido, ao mesmo tempo questionavam se um pecador poderia realizar sinais (Jo 9,16). A divergência de pensamento era evidente, mas uma coisa só bastava: o cego curado, respondeu com aos questionamentos movidos com naturalidade e segurança dizendo que Jesus era um profeta (Jo 9,17). Os judeus não acreditando na cura daquele cego, foram até os pais dele (Jo 9,18); esses disseram que seu filho nasceu cego (Jo 9,20) e não sabiam quem lhe devolveu a visão; e pediram para que perguntassem para o filho, pois já era maior de idade e poderia responder por si mesmo (Jo 9,21).

A curiosidade para saber quem tinha devolvido a visão é tamanha. Os judeus interrogava o curado cada vez mais (Jo 9,24), e esse permaneceu firme, pois tinha convicção em Jesus – mesmo sem conhece-lo em profundidade –, pois agora ele enxergava e antes não (Jo 9,25). Os fariseus também o insultaram (Jo 9,28-29), mas o que tinha sido curado não ficou calado, rebateu às interrogações com segurança e levou os fariseus a pensarem (Jo 9,30-33); esses temendo em desapegar das tradições para dar um salto na fé, expulsaram do lugar em que estava (Jo 9,34).

É impressionante a profundidade da experiência desse homem com Jesus! Ele abriu os olhos para uma realidade até então não vista! Ele foi capaz de desapegar daquilo que lhe escravizava para conhecer outras vivências! Não teve medo em si lançar ao desconhecido. Ousou vislumbrar novos horizontes e esses trouxe uma verdadeira recuperação da sua visão.

Graças à cura dos olhos da fé daquele homem foi capaz de reconhecer Jesus como o Filho do Homem, e fez uma profissão de fé: “Eu creio, Senhor! E ajoelhou-se diante de Jesus” (Jo 9,38). A profissão de fé só foi possível porque teve a abertura para confiar e acreditar em Jesus. Para aquele cego não restava mais nada, a não ser, sobreviver das esmolas, exposto a humilhação e inumanidade. No entanto, quando Jesus unge Jesus olhos com o barro e cego vai até a piscina de Siloé se lavar a cura acontece.

Nós cristãos também fomos ungidos e banhados na água por meio do batismo. O batismo tira de nós a escuridão, a morte, o pecado e nos renascer para uma vida em Cristo. Mas, acontece que com tantas coisas materiais e supérfluos, que almejamos na vida, nos impede de olhar para o sofrimento do próximo. Criamos tantas parafernálias em torno dos nossos olhos que não conseguimos enxergar a realidade miserável de tantos irmãos que padecem por falta de moradia digna, por falta de saúde de qualidade, vivendo inumanamente.

Será quando que nós, batizados, iremos verdadeiramente ter uma atitude fé como a do cego de nascença? O que está nos cegando? Quero continuar maneira que está como os fariseus e os judeus que não acreditavam na cura? Ou desejo fazer como o cego curado que se lançou na fé em Jesus?

Há muitas realidades que estão em nossa volta que não conhecemos, justamente porque não enxergamos. Às vezes, dizemos: “não sou cego, tenho dois olhos, não tenho problema de visão”. Pelo fato de enxergamos bem não significa que vemos. Como diz um ditado popular: “o pior cego é aquele que não quer ver”. Infelizmente agimos dessa maneira muitas vezes. Fingimos não ver o caos da saúde, para não termos que lutar em busca de melhorias; desconhecemos a realidade corrupta do nosso país, para não mudarmos esta realidade.

Silenciamos e fazemos de cegos para não enfrentarmos os desafios, os riscos, os perigos porque temos medo em nos manchar e nos sujar. Por isso, é muito mais fácil fingir que está tudo bem do que encarar a realidade. Quando nos acomodamos, muitas pessoas ficam a deriva, e, inclusive nós que dizemos cristãos. Cristão não é aquele que fica parado no tempo, mas sim aquele que se lança para águas mais profundas (Lc 5,4), a fim de experimentar nossas realidades e desafios. É esta entrega e confiança em Jesus que levou o cego de nascença a ver novamente.

Urgentemente, busquemos a cura dos olhos da fé, para vivenciar com autenticidade o nosso compromisso batismal. Caso contrário, estaremos como os judeus, medrosos em desapegar daquilo que já foi conquistado, e isso com certeza nos impedirá de sermos curados de nossa cegueira espiritual.

Que o Espírito Santo nos ilumine em nossa caminhada de fé!

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Por, Pe. Guilherme Stort


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