Honrou-nos imensamente o convite da organização do XXI Congresso Nacional do ECC (Encontro de Casais com Cristo), realizado nos dias 22, 23 e 24 últimos, na PUC/BH, com o tema: “ECC: FAMÍLIA EVANGELIZADA ALEGRIA DA NOVA PARÓQUIA NA SOCIEDADE”, e o lema: “Então a Glória do Senhor se manifestará” (Is 40,5), para trabalharmos a reflexão: Casais em 2ª união e o Ano Santo da Misericórdia.
A Pastoral Familiar abarca a família na sua situação real, em todos os seus aspectos e se dirige a todos os tipos de família, sem distinção: as regularmente constituídas como também as que se encontram em alguma situação de irregularidade. A todas, quaisquer que sejam a realidade e as circunstâncias em que se encontrem, a Igreja, por meio da Pastoral Familiar, deseja levar palavras e gestos de apoio, acolhida, orientação e conversão, sempre animada e impulsionada pelo espírito missionário do Bom Pastor. (Guia de Orientação para os Casos Especiais – CNBB- 2005)
O Setor Casos Especiais, da Pastoral Familiar realiza um trabalho pastoral de misericórdia e de acolhida fraterna, mas não pode sacrificar a verdade. A verdade por si mesma é misericórdia, pois ela liberta e salva: “Se permanecerdes na minha Palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, disse Jesus (Jo 8, 31-32)
Os Casais em 2ª União vivenciam um trabalho pastoral de acolhida fraterna aos irmãos e irmãs em idêntica situação, de evangelização, de anúncio e proclamação da boa notícia de Jesus, que convida e oferece caminhos de esperança a todos e não rejeita ninguém, faz tudo que está ao seu alcance e possibilidades.
É um trabalho com características próprias, que deve caminhar devagar, sem pressa, com responsabilidade, compromisso e dedicação, pois é um fazer missionário exigente, de busca de cura de muitas feridas, marcas profundas, chagas e mágoas.
A quem se destina o trabalho com os Casais em Segunda União?
Destina-se a casais constituídos por pessoas batizadas que vivenciaram o Sacramento do Matrimônio foram casadas, se divorciaram e realizaram uma nova união estável e que desejam voltar a participar da vida da Igreja. Também se consideram aqui os casais em que somente um dos cônjuges da 2ª União tenha recebido o Sacramento do Matrimônio no seu casamento anterior.
O trabalho da Igreja junto aos divorciados e recasados, em todos os seus níveis (nacional, regional, diocesano e paroquial), tem como objetivo acolher e evangelizar os Casais em 2ª União, a fim de que eles não se sintam separados da Igreja. É necessário dar-lhes condições de refletirem sobre a sua situação e sobre o amor misericordioso de Deus, para integrá-los na comunidade paroquial, onde, como batizados, podem crescer na fé e no amor e devem participar da vida e da missão da Igreja. (DPF- 2005).
O Sínodo da Família, realizado, pela primeira vez em duas assembleias (2014 – 2015) deixa claro que é preciso centrar muito mais as atenções à Pastoral Familiar e, por consequência, sobre a pessoa, nas suas variadas situações existenciais: criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, doente e os necessitados de atenções especiais. E isso só poderá ser conseguido adequadamente através da família. A palavra “misericórdia” perpassa todo o texto final do Sínodo e deve marcar uma nova atitude pastoral da Igreja em relação à família.
Os casais em 2ª União encontram na Igreja, que é Mãe e Misericordiosa abertura de portas e corações e o Sínodo já nos deu algumas respostas.
Favorecer “não a nulidade dos matrimônios, mas a rapidez dos processos” – é este o pilar da Carta Motu Proprio do Papa Francisco, intitulada “Mitis Iudex Dominus Iesus” (O Senhor Jesus, manso e humilde) divulgada no dia 8 de setembro de 2015, sobre a reforma do processo canônico para as causas de declaração de nulidade no Código de Direito Canônico. O documento deixa completamente a salvo o princípio da indissolubilidade do vínculo matrimonial, o que se deseja é mais celeridade dos processos, a fim de que, por causa da demora da decisão do juiz, o coração dos fiéis que aguardam esclarecimento de sua situação não mergulhe por muito tempo nas trevas.
O capítulo VI, da Exortação Apostólica Pós Sinodal “Amoris Laetitia” – A Alegria do Amor, do Papa Francisco, trata de Algumas Perspectivas Pastorais, fala-se portanto do acompanhamento das pessoas abandonadas, separadas ou divorciadas e sublinha-se a importância da recente reforma dos procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade matrimonial. Coloca-se em relevo o sofrimento dos filhos nas situações de conflito e conclui-se: «O divórcio é um mal, e é muito preocupante o aumento do número de divórcios”. Por isso, sem dúvida, a nossa tarefa pastoral mais importante relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo» (AL 246).
Isto implica a preparação de pessoal suficiente, composto por clérigos e leigos, que se dedique de modo prioritário a este serviço eclesial, por conseguinte, será necessário colocar à disposição das pessoas separadas ou dos casais em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação, ligado à Pastoral Familiar, que possa também acolher as pessoas tendo em vista a investigação preliminar do processo matrimonial.
“Cuidar delas não é, para a comunidade cristã, um enfraquecimento da sua fé e de seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimônio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade.” (AL 243)
Somos desafiados a nos perguntar e a responder:
Como relacionar e integrar misericórdia e missão na ação evangelizadora e prática pastoral com os Casais em 2ª União?
Caminhar é preciso…
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Por, Cláudio Rodrigues e Maria do Rosário Silva
Casal Coordenador Diocesano
Pastoral Familiar