Com as tragédias, vem o impacto: poderia ter sido comigo!. A possibilidade de “ter sido eu” faz as pessoas avaliarem suas condutas. A comoção é geral. E a grande maioria concorda: é preciso mudar.
Isso é muito frequente em velórios, quando amigos de longa data ou familiares indiferentes têm conversões abruptas: Vamos mudar!. Daí concordam que precisam se encontrar mais, com frequência paroquial, que, enfim, aquela viagem juntos, aquele almoço ou o bate-papo adiado no fim do dia ou da semana irá, efetivamente, ocorrer.
Mas… Como dizia o poeta Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo”. E a grande tendência do ser humano é a de não cumprir com a palavra dada. Os acordos interiores são lânguidos, os abraços frouxos e os apertos de mão sem força. O olhar difuso se desvia e o outro continua não sendo visto nem contemplado.
Infelizmente, somos dados a “trocar os pés pelas mãos”. Cada indivíduo tem sua “corrida armamentista”: o desejo insano de fazer fortuna, o orgulho exacerbado, a vaidade sem escrúpulos, o medo generalizado e o amor sem limites à própria causa e o pouco espaço ao outro e à gratuidade em tudo. Comercializa-se a fé e até barganha-se com Deus.
Aos poucos, a efervescência da paixão cederá espaço à indiferença. E a loucura da vida nos porá de novo em nossos “hospícios” pessoais. Quem nunca ligou continuará não ligando. Quem nunca veio continuará não vindo. Quem não fez continuará não fazendo. Quem não amou continuará não amando.
Enfim…
Enquanto formos apegados demais à vida e aos bens deste mundo, acreditando que algo nos pertence de fato, a morte será a grande frustração da vida além de uma violência imerecida. Enquanto não soubermos o real valor das coisas e aprendermos a diferenciar “urgente” de “importante”, “pessoas” de “coisas”, não viveremos; seremos apenas sobreviventes de uma existência apequenada.
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Por, Pe. Claudemar Silva
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