São vinte horas e trinta minutos. Sento-me para assistir reconhecido noticiário nacional quando, para minha frustração, aparece um aviso: “Horário gratuito de propaganda eleitoral”. São dez minutos, creio sim, que os “mais maçantes” da Televisão Brasileira. É um desfile de rostos, dos mais variados personagens, alguns deles com apelidos bizarros. Em muitos casos, é um “vale tudo” para obter os valiosos votos dos incautos eleitores. Chego a pensar que quem é capaz de se apresentar com estranhos – para mim – inomináveis apelidos- não respeita a si mesmo, à sua dignidade de pessoa, logo, muito menos respeito terá pelo seu público votante.
O desfile monótono dos rostos, os repetidos chavões de sempre – pela educação, saúde, pela segurança – faz-me aconchegar-me nos “braços de Morfeu” e, em rápido cochilo, entro em fantástico mundo onírico. Começo por visitar minha infância. Vejo na lapela de minha camisa um broche, mas não consigo distinguir se representa uma espada ou uma vassourinha (não é o caso de revelar ao meu estimado leitor, qual deles quando criança, carregava cheio de orgulho. Que criança não tem orgulho das coisas e atitudes de um pai bondoso e honesto!?).
De repente, no écran de minha onírica imaginação, desfilam os rostos desconhecidos dos candidatos, tais como se apresentam na TV. Fico atento, devo escolher prefeito e vereador para Araporã, Grupiara, Cascalho Rico, Estrela do Sul, Indianópolis, Monte Alegre de Minas, Tupaciguara, Araguari e Uberlândia. Estranhamente, não sou capaz de reconhecer os traços de pessoas conhecidas, sequer posso distinguir gênero, etnia, cor e formas de cada retrato. Eram “rostos universais”, sem feições definidas, “rostos sem rostos!”
Quando dirijo meu olhar para o pescoço, só consigo perceber que o retrato não tem colarinho clerical, talvez por saber com clareza meridiana que o clero não deve se imiscuir – como sábia e prudentemente ordena a Igreja – na vida política partidária. Afinal, a Igreja investiu pesado na formação intelectual, moral e espiritual de seu clero. Cada padre é formado em Filosofia e Teologia para se dedicar às searas do Senhor, para a Evangelização, e não para dividir o rebanho de Cristo, como homem promotor da união na comunidade. Não é ele quem celebra a Eucaristia, sacramento da Comunhão? Desde quando altar é tribuna partidária?
Do pescoço, em fantástica peregrinação, chego a lugar decisivo, o coração. Nos corações de alguns candidatos deslumbro seus reais sonhos e desejos e, também chego a ter pesadelos quando vejo os projetos pessoais de outros. Não sei se tenho sonho ou um íncubo. O coração é fonte de todo mal, de ambição, de desejo incontrolável de poder, de riquezas e variegadas honras – Jesus não nos disse um dia: onde está o teu tesouro aí está teu coração – e não há quem o tenha sempre preso ao desejo de poder, de glória e de bens materiais?
Vejo que é preciso, enquanto possível, visitar o coração, isto é, saber das intenções de cada candidato, saber quais são seus verdadeiros interesses ao ingressar na vida política, almejando um cargo eletivo. Alguns critérios, tenho em minha alma:
– não se vende voto, como não se vende a alma; vende-lo por um par de chinelos ou por um cromo alemão (por pouco ou por alto preço) é perder o direito de ulteriormente cobrar boa administração do vencedor que recebeu seu voto, então, valorize-o;
– escolha para prefeito pessoa de reconhecida capacidade administrativa e, para vereador, alguém com senso das leis e de justiça;
– vote em pessoa reconhecidamente honesta;
– lembre-se de que o cargo político só se justifica quando a serviço do bem comum, compreendido como “bem de todos os homens e do homem todo”. É pois, a busca do bem comum que justifica o precioso e tão necessário serviço de uma autoridade política;
– veja se no coração de seu candidato pulsa amor fraterno, luta pelo reconhecimento da inalienável dignidade humana, cuidadosa atenção para com as pessoas mais vulneráveis da sociedade.
Pronto acabei de votar. Não digo quem recebeu meu voto. A chamada forte e reconhecida do noticiário, acordou-me.
__________________________